domingo, 16 de agosto de 2009

A nós a liberdade (Renné Clair - 1931)




O filme trata do trabalho estranhado, do amor e do ódio como sentimentos compreendidos social e politicamente aburguesados, colados à classe social em sua essência, determinada pelo Capital e por meio de atos políticos.
Está presente a contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, o irracionalismo da sociedade do Capital que coloca o trabalho como uma força estranha, como os próprios sentimentos e ações do trabalhador diante de suas potencialidades humanas, que alienadas se dissolvem, mistificando a realidade.
O Terror, a prisão, a fuga, a perseguição, a vigilância e o medo, fazem parte de violência silenciosa e/ou declarada que é dirigida como forma de “liberdade” (necessária) para aniquilá-la (uma vez que a nega).
É pela opressão e pela exploração, partindo do grupo para o individual e ao mesmo tempo do individual para o grupal, compreendendo uma circularidade de transformações que reafirma a alienação em todos os níveis.
Frente aos conflitos entre burguesia e proletariado, existe uma reciprocidade dupla. Na luta, cada adversário é atomizado, embora se reconhecendo mutuamente, expressam uma fusão, mostrando, com isso, o caráter ontológico do poder centrado na dinâmica do Capital.
O poder exercido tanto pelo patrão quanto pelo trabalhador/operário é para garantir a (re)produção política, econômica e social, intensificando o poder das instituições e do enclausuramento disciplinar.
Tanto faz de que lado se encontra o “poder maior”, porque na relação de dominação pelo poder despótico do Capital, acaba por se configurar uma “servidão voluntária”, constituindo-se a condição social como artimanha para os discursos alienantes, justificando, instaurando e simbolizando uma modalidade diferente de sociedade, a sociedade pré-moderna cm máquinas, instrumentos, cada vez mais lucrativos.
Percebe-se a razão e a ciência como objetos de exploração, transformando a natureza e os homens em apêndices, em objetos operacionalizados pelo mercado, fortalecendo a mais-valia pela modernização dos meios de produção, nos modos de administrar o trabalho nos meios de produção serializada.
É nesse processo de fetichização que se dá a inversão de valores, a subvalorização do homem, de sua dignidade, condenando-o a uma relação perversa com a natureza. Contemplando-a como exterior e vendo no trabalho penoso a servidão do corpo às máquinas, representantes “legítimas” do ideal de conquista da liberdade na sociedade totalizante. Ai reside a felicidade fantasiosa porque é diante da necessidade que reside o desejo de produzir. Essa é a lógica do progresso no Capital.
René Clair mostra o caráter histórico das necessidades humanas produzidas na sociedade e coloca a possibilidade para a transformação. Suas personagens principais são párias, perseguidos, explorados, minorias empobrecidas e discriminadas, sendo suas necessidades o desejo de por fim às suas condições e às instituições nas quais estão mergulhados. Nesse contexto, as regras do jogo são violadas, descortina-se a trapaça do jogo, as inquietações, o mal-estar no mundo do trabalho.
René Clair mostra como a sociedade industrial fabrica a ideologia das angústias no processo de produção, gerando necessidades cada vez maiores, ao mesmo tempo em que oferece “possibilidades” para a sua “satisfação”, que nunca devem cessar. Tanto os operários, quanto os patrões mantêm interesses do establishment como forma de atingir a “liberdade”/”felicidade”. Ele mostra as necessidades humanas falseadas, a liberdade desvalorizada e pervertida.
Como em tempos modernos, o autor nos mostra a perversão da sociedade industrial, a falsa ideologia do progresso, o trabalho estranhado, os sentimentos e emoções a felicidade e a liberdade, falseados e metamorfoseados em mercadorias.

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